segunda-feira, 19 de agosto de 2024

O tóxico

 

 

                Era janeiro de 2014, eu havia ficado três meses no inferno da clinica, onde clinica não é o nome e sim prisão particular para jovens drogados. Estava revoltado, sem dinheiro, sem esperança, com uma casa extremamente bagunçada, sem nenhuma motivação e muita vontade de morrer!

                Me deitei naquilo que era minha casa, Dieni e Elton Dion moravam aqui (afinal eles esperavam que eu ficaria muitos meses lá naquele inferno).

                Não demorou eu me droguei, aliás, foi a primeira coisa que fiz, também pudera, não sentia a mínima vontade de parar de usar drogas e ficar sem drogas só me deixou mais triste, solitário, gordo e desemparado.

                Iniciei uma relação amorosa logo com a Dieni, começamos a namorar, a ficar sério, nessa relação unilateral (onde só ela fazia tudo) eu era literalmente um filho dela.

                Algumas pequenas coisas mudaram, consegui um modo de fazer dinheiro, um negócio que me levaria mais longe no meu casamento com cocaína.

                Comecei a misturar maconha e cocaína e álcool. Nesses delírios eu vivi meu próprio inferno, onde eu via que ela havia me traído, que ela iria me roubar, que ela não “prestava” e com certeza, nada disso era real, tudo era efeito de muito droga. Mas na minha mente era tudo tão tão real...

                Começou o relacionamento tóxico, os xingamentos, os abusos de todos os lados e então eu tinha uma vitima...

                Em junho ou julho de 2015 aconteceu a segunda internação a força, diferente da primeira, eu surfei nessa internação, agi direitinho, até conseguir a visita e contar de verdade o que acontecia lá dentro da clinica e consegui uma transferência para uma clinica descente. Era de verdade uma chance de ficar limpo em muito tempo e deus, como eu queria ficar limpo, como eu queria sair das drogas a essas alturas...

                Fugi da segunda clinica, mas sai de lá querendo ficar limpo, infelizmente não durou muito e acabei parando em outra clinica psiquiátrica, mas essa foi tensa, muitos remédios e eu quase fiquei louco, fugi.... Bati minha cabeça numa escada (uma cicatriz que terei pelo resto da vida)

                Nesse meio tempo eu estava guardando dinheiro (eu não, ela... ela fazia tudo e não deixava eu derreter o dinheiro em drogas – graças a deus)

                Entre cigarros apagados no braço, brigas em família, carros jogados em valão eu ainda estava vivo e comecei a fumar muita maconha, muita...

                Foram 11 meses de chapadeira intensa, larguei o pó de mão... e...

                Vamos ter um filho? (Porque não né? Não tinha nada de errado comigo, o que poderia dar errado? Huahahuhauhuahuahuauha)

sexta-feira, 19 de julho de 2024

Algumas noites de solidão

 

Uma das coisas que eu lembro, lembro vagamente eram as intermináveis noites daqueles anos entre 2012/2013. Chegava o horário da madrugada, os status on line não existiam mais, não era possível falar com ninguém, a madrugada seria de paranoia... De solidão, de medo, de abandono, até a esperança havia ido embora....

Havia muito serviço, muitas tarefas das quais eu era incapaz de começar e terminar, haviam cigarros que eu fumava dentro da sala deixando aquele cheiro horrível para o meu primo no outro dia, havia as tarefas que poderiam ser substituídas por inteligência artificial se eu não estivesse não cego da droga para perceber...

Mas eu, eu adorava puxar uma carroça né?

As vezes, algumas vezes, uma ou outra prosti-coca me chamava, eu ia, queria companhia, companhia e sexo... Fazer o que?

Eu era aquele contato chato do facebook que te chamaria as 07:00 numa convesa obcena do nada... Eu era um pé no saco...

As coisas se repetiam, então, as cinco ou seis eu sempre ia ver o sol nascer, eu lembro que o sol nascendo me acalmava, trazia uma esperança que a noite havia levado embora...

 

sábado, 13 de julho de 2024

Um pouco antes do inferno (ou não)

 

2012 – O ano da decisão

O ano era 2012, uma paixão clara por cocaína, a droga que estabeleceu todas as relações interpessoais, de interesse, sejam financeiros, amorosos ou qualquer outro.

Antes, eu sentia medo, me escondia, não saia para trabalhar quando estava sobre efeito da droga, mas começou uma severa mudança, uma mudança que me levaria a beira da loucura. Comecei a sair, trabalhar, cobrar e usar.

Nem de longe isso seria uma vida normal, uma vida onde eu pedia dinheiro para o pai de manhã cedo e a noite eu já não tinha um real, só cocaína no bolso, pouca gasolina, quase nada de cigarro, não tinha comida em casa e tudo parecia o paraíso.

Um plano obcecado por comprar um 1kg e acreditar que tudo ficaria bem se houvesse drogas.

As roupas gastas, o skate, o carro, tudo se moendo, as relações das pessoas que realmente eram alguma, poderiam ser benéficas, essas... Essas pessoas sabiamente se afastaram em resguardo próprio.

Simplesmente comecei a secar, andei de boca em boca até encontrar uma boca (biqueira, ponto de venda de drogas em Campo Bom) que me levou a uma outra biqueira/boca em São Leopoldo, essa outra venda de drogas conseguiu me oferecer drogas no “atacado” em um preço único que sustentou meu vicio de forma caótica e doentia.

As gurias, aquelas almas perdidas da noite que entravam no meu carro para se drogar, os amigos vampiros que por interesse vinham usurpar minha droga. Noites intermináveis de solidão, desespero, abando de si mesmo me acompanhavam...

O que antes era divertido, sair pra jogar sinuca, sair a noite, beber, essas coisas já viraram rotina e nelas meu próprio tédio!

As drogas tem seu preço e uma coisa foi feita nesses processo, uma ideia tão doente quanto a viagem que me envolvia, a ideia foi praticar fraudes no seguro desemprego.

O ano era 2013 perto de outubro, nunca esqueço, então finalizei finalmente elas (coisa rara um drogado acabar uma tarefa) e tão logo, entraram na minha sala do escritório. Coitado do meu pai, não aguentava mais minhas viagens.. Pagou para me internarem...

A clinica em si era clandestina, era um lugar de vários abusos psicológicos, um lugar triste, internação involuntária... Perdi diversos clientes (os que não consegui perder me drogando perdi por não atender). Então, minha vida que já era ruim ficou muito pior... Sai de lá para casa, minha casa toda estranha, não sentia vontade de viver, comecei a fumar maconha sem parar... cara, que visão triste...

Mas... eu fiz fraudes das quais não consegui colher os frutos em 2013 e em 2021 isso me colocaria na cadeia!

Logo que sai da clinica, iniciei um relacionamento e os próximos escritos serão tristes e irão retratar esse relacionamento!